quinta-feira, abril 16, 2020

segunda-feira, abril 13, 2020

Crônica - O prazo de validade do Liberal: A Necessidade.

O prazo de validade do Liberal: A Necessidade. 

Boris Johnson, premier Britânico, enfim parece restabelecer a sua saúde. Recebeu alta no último domingo e, em breve, estará novamente ocupando seu cargo de gestor máximo do Estado Britânico. Uma boa notícia para os teus compatriotas, que observaram em seu chefe de governo, um cético no início da pandemia, que inclusive fez dele uma das vítimas. E, em seu primeiro pronunciamento oficial desde que contraiu a Covid-19, fez questão de enaltecer o sistema de Saúde Pública do Reino Unido e os profissionais que o acompanham neste certame. Nada mais óbvio. 

Nestes momentos me lembro de Francisco, o Buarque de Holanda: “Roda Mundo, Roda-Gigante... O tempo rodou num instante”. E mesmo no planeta dos que defendem o terra-planismo, parece que a roda do mundo girou. E que baita 360°. Não entendeu? Explico. Boris, nome de origem eslava e bem comum no mundo do “Putinismo”, é membro do partido conservador britânico, que para grande parte dos analistas de política internacional é o mais bem-sucedido partido político de nossa história recente e que descende do Partido Tory, historicamente, aliado à Coroa e detentor de um domínio que perdura por mais de dois terços dos últimos 120 anos, no Reino Unido. Deste partido, temos célebres nomes da geopolítica mundial: Arthur Balfour, Winston Churchill, Margaret Thatcher, David Cameron, Theresa May etc. E dentre tantos, talvez o mais folclórico dos líderes de sua história rica e poderosa, tenha sido Boris. O “guerreiro” desta vertente política europeia, que voltou ganhar força no planeta na última década, vende a retórica de um alarmismo centrado em uma “Guerra” travada contra os preceitos morais da sociedade ocidental. Contudo, o que podemos observar é que tal verborragia é repleta de um nacionalismo isolacionista e xenófobo. O futuro próximo dirá. 

Com sua personalidade caricata e peculiar, o excêntrico Boris é o grande vitorioso político nesta batalha por protagonismo na Europa, de Merkel e Macron, que lutam tanto por solidificação de um bloco, que desde a 2ª GM observa na união (Benelux, Plano Schuman, C.E.C.A, M.C.E) a possibilidade de ascensão e competitividade no mundo global mas, que encontra na amarras das teses de Steve Bannon, obstáculos para sua estabilização. Pois é, a tal antiglobalização defendida pelo “mentor” político de Donald Trump e sua trupe conta com muitos adeptos na Europa e no continente americano. O BREXIT é um símbolo de tudo isso. Um signo que ainda remete às consequências da Crise da UE e que fez o Europeu “questionar” o Welfare States, a união produtiva, os acordos para livre-circulação e a importância histórica dos migrantes na estruturação laboral do bloco supranacional que detém um PIB de US$ 16,4 tri (dados de 2019). 

Ademais, o espírito conservador do partido, travestido da figura periclitante de Johnson, sempre defendeu uma pauta. A diminuição dos gastos realizados pelo Estado e o fechamento das fronteiras para os migrantes. E, justamente daí, vem alguns de nossos questionamentos: Como superar esta que se apresenta com a mais impactante crise do sistema capitalista. Solidariedade e bem-estar são utopias? Por que a consciência coletiva, em geral, só aparece quando se mais precisa? Será que os caminhos percorridos por alguns gestores desta “nova” política tem sustentabilidade ou é viável? Vejamos... 

Boris, em seu pronunciamento, enalteceu o NHS (National Health Service) que desde a sua criação, há mais de 70 anos, está entre os sistemas universais de saúde mais elogiados e completos do planeta, mesmo com as reformas liberalizantes produzidas em 1991, idealizada pelo partido conservador de Thatcher, que vociferava os danos às contas públicas que o sistema gerava. Era o fim do Welfare States? A crise do petróleo da década de 1970 reforçou tal discurso e dando origem a implementação oficial do neoliberalismo, com a Dama de Ferro no Reino Unido e o herói de Velho-Oeste, Ronald Reagan nos EUA. A lei que reformava o NHS foi modificada em 1999 e tratou de reafirmar seu caráter universal, mantendo as raízes do sistema. O Partido Conservador que antes vislumbrava com a possibilidade de promover reformas no sistema, agora vê seu principal expoente declarar que: “Não existem palavras que sejam suficientes para agradecer. Eles salvaram a minha vida”. E ainda reforçou: “povo britânico formou um escudo humano em torno do maior patrimônio nacional deste país, nosso Sistema Nacional de Saúde”. Parece que o mundo girou para o Premier e quem sabe para o partido, pelo menos por enquanto. 

Um detalhe interessante e recheado de simbolismo na fala do primeiro-ministro britânico gira em torno dos enfáticos elogios aos profissionais de saúde que cuidaram dele no período acamado na UTI. Jenny (Neozelandesa) e Luís (Português) são alguns dos nomes dignos da gratidão de Johnson. Vale ressaltar, que no fim de janeiro deste ano, oficializou-se o BREXIT, a saída do Reino unido do bloco da União Europeia. E Boris Johnson é o seu maior entusiasta, sendo colocado no cargo justamente para politicamente dar seguimento a saída da União Econômica e Monetária. 

Tal projeto tinham duas bandeiras principais: 1. Os problemas financeiros em decorrência dos gastos elevados com a recuperação econômica dos países mais pobres do bloco; 2. A facilidade com a qual estrangeiros entravam no país. É importante determinar que o Reino Unido não era adepto do Espaço Schengen (1973 - acordo entre países europeus sobre uma política de abertura das fronteiras e livre circulação de pessoas entre os países signatários), o que reforça o caráter isolacionista e xenófobo de parcela dos votantes para a consolidação do plano de separação. A vossa excelência talvez não contasse com as peripécias do destino. E, no momento de enfermidade, as mãos de imigrantes estavam à disposição para cuidar do chanceler. Ironia? De acordo com as novas perspectivas definidas pelo BREXIT, os imigrantes precisarão falar inglês fluentemente, ter uma oferta de emprego e renda de cerca de R$ 166 mil anuais para ter um visto de moradia. Ou seja, imigrantes como Luís, dificilmente entrarão no país a partir de 2021. 

Talvez, o prazo de validade de certas teses políticas, que por vezes são recheadas de incoerência e instabilidade ideológica, sejam justamente a necessidade (que tal como assevera o ditador popular: Faz o sapo pular) do político sempre estar disposto a rever suas teses. Momento oportuno para o Sir Boris Johnson. Donald Trump, o Prefeito de Milão Giuseppe Sala, o Chanceler Sueco Stefan Lofven, López Obrador no México e tantos outros líderes das mais diferentes denominações políticas estão fazendo este exercício, revendo determinações políticas e preceitos ideológicos, neste momento trágico de nossa história recente. Todavia, nem todos estão preparados para isso, o que me faz lembrar da frase do estadista Charles de Gaulle: “Como um político nunca acredita no que diz, fica surpreso quando os outros acreditam”. Cabe então a reflexão de Nietzsche que afirmara que para os políticos somos divididos em apenas duas classes: instrumentos ou inimigos. E qual destas opções do jogo político nos encontramos? Ao menos uma coisa é certa. Uma hora ou outra a contradição nos torna frágeis politicamente pois, até para a incoerência existem limites. 

 Flávio Bueno - Geografia

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