Ensaio: Por que insistimos em camuflar nossa triste história.
Seja com “Atlântico Negro, na rota dos Orixás”, ou ainda com “A Rota do Escravo” a UnB sempre fez questão de exaltar em suas avaliações a africanidade pujante e firme que reside com muita luta em sociedade. O Brasil recebeu mais da metade dos povos africanos escravizados que se deslocaram para a América, este espinho ainda teima em ferir a nossa carne. É algo que jamais podemos esquecer. Levando em consideração as teses de René Descartes, que defendia que a modernidade criou o indivíduo e, ainda, o mais contemporâneo pensamento de Michael Foucault, que ia além, quando referendava que a modernidade criou o próprio ser humano, é possível determinar com fatos consistentes que a modernidade também foi responsável pelo maior espectro de destruição de sociedades que a humanidade conheceu, a escravidão. A despersonificação, dessocialização e a desterritorialização são nítidas e a identidade deste povo é marcada pela homogeneização espúria e violenta. Fenômeno que até hoje deixam cicatrizes indeléveis na sociedade brasileira. Essa deportação em massa, com privação do direito de existência seria, aos moldes dos valores defendidos pela declaração universal dos direitos humanos, crime de genocídio. Mas, 20 segundos da obra Amistad de Steven Spilberg sobre Tráfico Negreiro, já são capazes de rememorar sob quais condições nosso povo foi construído. Talvez, seja esta a base do pensamento do historiador Paulo Prado em “Ensaios sobre a tristeza brasileira”: “um país como o nosso usa de uma falsa alegria para camuflar uma tristeza profunda e estrutural. Não há felicidade num local construído a partir da escravidão, da cobiça e do estupro”. (Grifo nosso) O que nos falta talvez é exercitar essa memória, não as dos vencedores (colonizadores), sob o risco de continuarmos, como diria Chimamanda Adichie, a mercê do risco de uma história única. No fim, o perfilamento racial acaba nos tornando protagonistas dessa violência até hoje, afinal "todo camburão tem um pouco de navio negreiro" (O Rappa)