Como punir aqueles que nos punem?
Uma dúvida cruel me aflige hoje. Se um Policial Militar nos
aplicar uma multa por não utilizar o cinto de segurança quem vai multar o
"Seu Guarda" pelo mesmo delito infracional, considerado grave pelos
órgãos reguladores do trânsito de nosso país? Deveras hipocrisia daqueles que
tinham que ser o exemplo de conduta moral e ética. Vivemos em uma sociedade
livre e democrática, numa luta intensa contra a criminalidade, onde a Polícia
está investida da função de proteger e promover liberdades e direitos individuais,
consequentemente o aperfeiçoamento da Democracia e do Estado de Direito, dentro
da Legalidade. Agora, como poderão estes aplicar a lei se não às cumprem? São
nestas "pequenas" práticas que percebemos o quão distante do
cumprimento da lei estão nossas principais instituições. Quanto mais o tempo passa, pior motorista nos
tornamos. Investimos todo nosso orgulho no pedal direito do carro... Nossos
jovens se tornaram cada vez mais irresponsáveis, nossa paciência no dia-a-dia é
cada vez menor e estamos cada vez mais próximos do autoextermínio, pois a cada
ano batemos recordes e mais recordes de mortes no trânsito e, infelizmente
muitas delas por pura falta de educação. Parece que pedir uma passagem ou dar
uma seta virou crime. Aliás, este tópico é interessante. Em um país onde os
jogos de azar estão proibidos há quase duas décadas, o próprio Estado constrói e
nos empurra seus caças níqueis (pardais) goela abaixo e sem água para facilitar
o troco e a descida. São 40 milhões investidos por ano em pardais e 2 milhões
em educação no trânsito, ou seja, uma inversão
sistemática e estranha de valores. Só gostaria de ver investida a grana de um
pardal em computadores para a rede pública de ensino. Tenho certeza que teríamos
menos mortes em nosso trânsito. Pode-se perceber uma notória similaridade entre
esta prática e o discurso de Foucault quando o mesmo assevera que para
entendermos o Estado é essencial compreendermos as engrenagens do Poder que
permeiam uma sociedade, que coloca as instituições criadas pelo Estado como
elementos formais de controle social, produzindo relações de dominação,
punitivas e criam saberes e verdades que disciplinam a população a partir de
seus interesses e perspectivas. Não é a dúvida que se apresenta como cruel, e
sim o poder ausente, inóspito e indecifrável que a democracia supostamente dá
ao povo, na assepsia da palavra: poder e povo não comungam a mesma esfera
social. E nos resta à dúvida. Como punir aqueles que nos punem?
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