terça-feira, maio 24, 2011

TEXTOEUA X AMÉRICA LATINA

O declínio da influência dos Estados Unidos na América Latina 

As dimensões geográficas, demográficas e econômicas do Brasil, seu potencial, sua privilegiada posição geopolítica e geoestratégica no continente sul-americano, voltado de frente para o continente africano, o tornam o único possível rival à influência hegemônica dos Estados Unidos no Hemisfério Ocidental Sul. Assim, a estratégia estadunidense geral visa preservar a aproximação com o Brasil, aumentar a sua influência sobre a elite brasileira, convencê-la da inevitabilidade, irresistibilidade e dos benefícios da influência hegemônica e da liderança norte-americana no hemisfério. Em segundo lugar, cooperar para que o país se mantenha como ponto de equilíbrio ao sul, mas que ao mesmo tempo não de desenvolva, econômica e militarmente, em níveis que possam torná-lo competitivo com os Estados Unidos, em termos de influência econômica e política, na região do Hemisfério Ocidental. Desta forma, ao mesmo tempo em que se aplicam ao Brasil alguns dos objetivos estratégicos em nível mundial e para a América Latina, é possível identificar objetivos estratégicos específicos da superpotência hegemônica para o Brasil. Do ponto de vista de sua estratégia militar, os EUA têm procurado, em primeiro lugar, manter a influência americana sobre a doutrina e o equipamento militar brasileiro, enquanto, a partir da queda do Muro de Berlim e dentro do enfoque geral de desarmamento da periferia, argumentam que a inexistência de inimigos, ameaças, visíveis no momento atual, fazem prever uma era de paz perpétua, em que as Forças Armadas brasileiras devem ser reduzidas em efetivos e se adaptar à luta contra os "novos inimigos", quais sejam, o narcotráfico, o terrorismo, etc. Em segundo lugar, sua estratégia tem como objetivo evitar o surgimento de uma indústria bélica brasileira de nível competitivo e, muito em especial, evitar a aquisição pelo Brasil de tecnologias de armas modernas e de destruição em massa. A estratégia política norte-americana em relação ao Brasil tem como seu principal objetivo apoiar os governos brasileiros que sejam receptivos à iniciativas políticas americanas no hemisfério e em geral e, simultaneamente, manter canais abertos ao diálogo com a oposição, mesmo a oposição a esses governos "simpáticos". Como corolário desse objetivo maior, a estratégia estadunidense procura evitar a articulação brasileira com outros Estados que possa pôr em risco a hegemonia e a capacidade de negociação americana. Um aspecto de sua estratégia tem sido convencer a sociedade e o governo brasileiro da "culpa exclusiva" brasileira pela situação de direitos humanos no país e pela situação de subdesenvolvimento em geral e até eliminar o conceito de "desenvolvimento", substituindo-o pela noção de injustiça. A lapidar frase "O Brasil não é mais um país subdesenvolvido, é um país injusto" reflete, cabalmente, a equivocada percepção de um amplo setor da intelectualidade brasileira, e que é, cada vez mais, desmentida cotidianamente pela realidade. No campo econômico, a estratégia americana tem como objetivo máximo assegurar a maior liberdade de ação possível para as empress americanas, evitar o surgimento de empresas competidoras fortes de capital brasileiro no Brasil e, como corolário, reduzir o papel do Estado como investidor, regulamentador e fiscalizador da atividade econômica. Secundariamente, porém certamente de forma complementar, procura sugerir com insistência a adoção de políticas de "crescimento" econômico com base em vantagens comparativas estáticas e propugnar o combate assistencial à pobreza de preferência a uma estratégia de desenvolvimento econômico e social. A estratégia ideológica, que é central para todas as demais, procura convencer a elite e a população brasileira do desinteresse e do altruísmo americano em suas relações com o Brasil, inclusive com o objetivo de garantir o apoio da elite brasileira à idéia de liderança americana benéfica no continente e no mundo. Para atingir tais objetivos, a estratégia estadunidense considera como imprescindível garantir o livre acesso dos instrumentos de difusão do American Way of Life à sociedade brasileira e formar grupos de influência norte-americana no Brasil e, como meio, formar a elite brasileira em instituições americanas. Como reverter essa influência nefasta para a Nação? Eu diria que através de medidas governamentais - abrangendo o amplo espectro da tecitura social -, no sentido de esclarecer a sociedade brasileira das mazelas do Neoliberalismo e do "atrelamento automático" aos ditames da superpotência mundial. Faz-se mister conscientizar e mobilizar as elites brasileiras no sentido de que dispam-se do comodismo e assumam atitudes corajosas objetivando reeducar as nossas lideranças e o povo em geral, criando condições favoráveis ao florescimento de uma atitude mais nacionalista, mais patriótica e mais favorável ao surgimento de um desenvolvimento autóctene, sem a intromissão de potências estrangeiras em assuntos de natureza interna, em nosso País. EUA x AMÉRICA LATINA Transcrevo acrescentando subtítulos entre colchetes para facilitar a leitura: “AMÉRICA LATINA- EUA: OS SETE CAPÍTULOS DE UMA CONTURBADA RELAÇÃO “A História da relação entre os Estados Unidos e a América Latina possui sete capítulos bem definidos. [DOUTRINA MONROE] O primeiro deles é a definição da esfera de influência em 1822, com a promulgação da Doutrina Monroe. Esta explicitava claramente que as nações hispano-americanas que emergiam à independência constituíam território vedado aos apetites imperiais europeus e, por extensão, passava a constituir espaço natural de influência norte-americana. [DESTINO MANIFESTO] O segundo capítulo é o do Destino Manifesto. A guerra de 1848 contra o México, no tempo do presidente James K. Polk, objetivou anexar territórios mexicanos considerados como indispensáveis para a realização de seu destino como nação. A posse da Califórnia e Novo México consubstanciam, efetivamente, essa etapa. [IMPÉRIO] O terceiro, é o do Império. Este toma corpo a partir de 1898 com a guerra contra a Espanha e a conquista de seus territórios coloniais remanescentes. Em adição à Filipinas, isto incluía Cuba e Porto Rico. O novo império estadunidense passou então a dispor de dois cenários. Um no Pacífico e outro na Bacia do Caribe. Em 1903, Washington propiciou a secessão do Panamá da Colômbia, para incorporá-lo como Protetorado. No curso das três décadas seguintes, os Estados Unidos invadiram trinta e quatro vezes nações da Bacia do Caribe para impor a elas a sua vontade. Isso incluiu a ocupação dos seguintes países: México, Honduras, Nicarágua, Guatemala, Costa Rica, Haiti, Cuba, Panamá e República Dominicana. Se bem que a Venezuela - país de importância estratégica devido à riqueza petrolífera -, não chegou a ser invadida, caiu dentro desse espaço geopolítico em virtude do chamado Corolário Roosevelt à Doutrina Monroe, que transformou o Mar do Caribe num Mare Nostrum das finanças e da esquadra americana, dando ordenamento jurídico às futuras intervenções. Mais ao Sul, os tentáculos de Washington enfrentaram a forte presença britânica em matéria comercial, financeira e de infra-estrutura, determinando limites à sua penetração imperial. [POLÍTICA DE “BOA VIZINHANÇA”] O quarto capítulo corresponde à Política da Boa Vizinhança, iniciada em 1933 com a chegada ao poder de Franklin Delano Roosevelt. De acordo com a mesma, Washington retira suas forças de ocupação do Caribe, derroga uma série de tratados que lhe concediam privilégios desmesurados e define uma política de não intervenção na América Latina. Esta fase é o resultado de três significativos fatores: a exigência de introspecção derivada de sua depressão econômica, a constatação dos limites de seu poder militar após uma longa e cansativa campanha contra Sandino, na Nicarágua, e o reconhecimento do forte movimento nacionalista latino-americano, simbolizado pela Revolução Mexicana. [GUERRA FRIA] O quinto capítulo é o da Guerra Fria. Terminada a Segunda Guerra Mundial e conformado um mundo bipolar, a América Latina se transformou em cenário primacial para a imposição de suas políticas. Novamente se definiu uma relação do tipo imperial, que passou a abarcar toda a região. A criação da CIA, em 1947, se adequou bem a esse propósito. Até a invasão do Panamá, em 1989, e, salvo pelo breve parênteses da administração Jimmy Carter, quase todos os países da América Latina experimentaram, em algum momento, a mão implacável do Governo estadunidense. [CONSENSO DE WASHINGTON] O sexto, é o do Consenso de Washington. Terminada a Guerra Fria, os Estados Unidos colocaram em segundo plano o seu domínio imperial que passa a ser substituído pelo exercício da hegemonia econômica. A partir daí, a região passou a ser o laboratório ideal para encetar as novas políticas. [IMPERIALISMO DEMOCRÁTICO] Com a chegada de George W Bush ao poder, e após os atentados de 11 de setembro, levados a efeito em Washington e Nova York, adentra-se no sétimo e último capítulo. Os falcões estadunidenses não se conformando com a simples adoção da hegemonia econômica passam a exigir o retorno de um poder coercitivo imperial assumido às escâncaras. Trata-se do denominado “imperialismo democrático”. A invasão perpetrada ao Iraque, pelas tropas da coalizão anglo-estadunidense, ao arrepio do Conselho de Segurança das Nações Unidas, é um exemplo inconteste dessa afirmativa.” A entrada de Cuba na OEA é uma reveladora indicação do declínio do poder dos EUA em toda a região. Limitada por duas guerras prolongadas e enfrentando crescentes concorrências tanto da Europa como da China, assim como do Brasil, para o comércio e investimentos na América Latina, Washington já não está em posição de ditar regras para os governos que representam os interesses das elites dominantes ao sul de sua fronteira. O significado desta decisão não passou em branco entre os cubanos anti-Castro nos EUA, que protestaram intensamente contra a decisão da OEA. Congressistas cubano-americanos, incluindo o Senador Democrata Robert Menendez de New Jersey e Mario e Lincoln Diaz-Balart, solicitaram cortes na legislação dos EUA para o financiamento da OEA. Numa declaração conjunta, os irmãos Diaz-Balart chamaram à OEA de “uma deteriorada perturbação”, enquanto Menendez chamou à resolução “absurdamente vaga”, e disse que o Congresso debateria “o quanto nós estamos dispostos a apoiar a OEA enquanto instituição”. Os chefes de estado latino-americanos celebraram a decisão. O presidente da Venezuela, Chavez, disse que a decisão significou que “nós já não somos o quintal dos Estados Unidos, nós já não somos uma colónia”. O presidente hondurenho Manuel Zelaya proclamou que com a aprovação da resolução, “a Guerra Fria terminou neste dia em San Pedro Sula”. Em referência à famosa passagem de um discurso feito por Fidel Castro durante seu julgamento pelo fracassado assalto ao quartel do exército cubano em 1953 na cidade de Moncada, Zelaya acrescentou, “Eu disse ao comandante Fidel Castro: ‘Hoje a história absolveu-o’”. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva considerou a decisão da OEA de “uma vitória para o povo latino-americano”. Lula fez esta observação ao final de uma viagem por três nações da América Central na qual promoveu alianças comerciais e investimentos de capital para corporações e bancos brasileiros. Entre os acordos concluídos estava a criação de uma planta de produção de etanol na Costa Rica para exportação para o mercado dos EUA. “Eu nem sei se eles querem voltar para a OEA, mas, em todo caso, eles não estarão tão marginalizados”, disse o presidente brasileiro sobre os cubanos. Na realidade, Lula não falou pelo “povo latino-americano”, mas sim, pelos capitalistas brasileiros, que vêem em Cuba uma fonte potencial de superlucro e querem o fim do embargo económico dos EUA e das significantes dificuldades que isso apresenta para a exploração do trabalho e dos recursos da ilha. Não foi a história que absolveu Castro em San Pedro Sula, mas, sobretudo, a burguesia latino-americana. Este tem sido um demorado processo no qual seus governos restauraram relações diplomáticas normais e viram a tentativa dos EUA de colocar Cuba de quarentena como cada vez mais e mais irracional. Desde o início, a tentativa do imperialismo dos EUA de isolar Cuba em nome do “sistema interamericano” baseado na “democracia e livre mercado” foi mergulhada em hipocrisia. No meio desta votação em 1962, para rejeitar Cuba na OEA, estavam as ditaduras de Trujillo na República Dominicana, Somoza em Nicarágua e Stroessner no Paraguai. Da sua parte, Fidel Castro rejeitou a possibilidade do retorno de Cuba à OEA, referindo-se à mesma como “Ministério de Colónias dos Estados Unidos”, e “infame e repugnante antro de corrupção”. No interior da própria OEA, o afastamento de Cuba ocorreu sob crescentes desafios para os governos burgueses latino americanos, que, nos anos 70, viam Cuba como uma ameaça à sua estabilidade. O regime nacionalista em Havana abandonou suas pretensões revolucionárias dos anos 60. Castro desistiu das políticas de promoção de guerras de guerrilha, aceitou o estado existente instalado na América Latina e subordinou seu regime à política de “coexistência pacífica”, defendida pela burocracia stalinista de Moscovo, que subsidiava pesadamente a economia cubana. Existia um movimento significativo para revogar a suspensão de Cuba da OEA em 1973, depois de a organização adoptar a doutrina do “pluralismo ideológico”, principalmente para acomodar o crescente número de ditaduras militares apoiadas pelos EUA, que claramente falharam em encontrar pretensões democráticas para o tão falado sistema interamericano. Em Julho de 1975, a OEA votou pela liberdade dos membros em determinar seu próprio relacionamento com Cuba. Não obstante, Washington conseguiu invalidar todas as tentativas de readmitir Havana na organização. Enquanto aclamavam a votação em Honduras como uma “defesa histórica”, o regime cubano reiterou que não tinha interesse em regressar à OEA. Nas vésperas da votação, o doente ex-presidente Fidel Castro, escrevendo numa de suas regulares colunas de “reflexões”, denunciou a OEA como uma “cúmplice em todos os crimes cometidos contra Cuba” e declarou ser “ingénuo acreditar que as boas intenções de um presidente dos Estados Unidos justifiquem a existência desta instituição”, que ele descreveu como um “cavalo de Tróia”. Enquanto o regime Castro tem bebeficiado de uma aliança de vitórias diplomáticas, a situação da economia interna de Cuba parece estar crescendo de forma cada vez mais violenta. Começando em 1 de Junho, o governante Raul Castro anunciou “medidas excepcionais” para lidar com a crise crescente. Várias restrições têm sido impostas no uso da eletricidade, forçando os escritórios do Governo e o sector varejista a manter luzes e ar condicionados desligados na maioria dos dias e existe a ameaça de apagão para províncias inteiras caso elas usem mais do que sua quota de energia. O Ministro da Economia e Planejamento Marino Murillo revelou que as projecções anteriores de crescimento de 6% para a economia foram abandonadas, e agora apenas 2,5% de crescimento foram previstos, na medida em que a economia cubana foi abalada pela crise económica e ainda está cambaleando pela perda de 10 biliões de dólares, sofrida devido a três furacões no último ano. Os preços das importações aumentaram, enquanto o preço do níquel, a principal exportação do país, afundou. Dentre outras medidas austeras que têm sido implementadas, estão as drásticas reduções nos serviços de transportes e um corte de 50% em gastos para almoços fornecidos para funcionários de empresas estatais. As medidas são as mais severas vistas desde o tão falado Período Especial que se seguiu ao colapso da União Soviética em 1991, quando os subsídios de Moscovo acabaram e o PIB caiu 35%. Enquanto Raul Castro prometeu aumentar o nível de vida quando assumiu, de seu irmão Fidel Castro, o controle da ilha no ano passado, as políticas do governo e a pressão da crise global capitalista produziram exactamente o oposto, resultando no aumento das tensões sociais. Durante décadas, o regime Castro clamou por legitimidade política baseada em sua resistência as agressões dos EUA e apelou aos sentimentos nacionalistas do povo cubano, pela manutenção – pelo menos até ao período recente – de um determinado nível de igualdade social, mesmo que seja no nível empobrecido da maioria dos trabalhadores. Cabe perguntar então: o que será do regime cubano agora, quando as relações não são mais conflituantes? O levantamento do embargo económico dos EUA contra Cuba, trazendo consigo um influxo de capital estrangeiro – uma medida apoiada por secções predominantes da corporação dos EUA e do capital financeiro, assim como pelas elites dominantes na América Latina – causaria uma forte intensificação da crise económica e política na ilha. 

MNN – Movimento da Negação da Negação http://www.transicao.org/ 

 A INFLUÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS NO BRASIL 

Garimpando na internet textos interessantes sobre esse tema, encontrei no site www.militar.com um artigo muito bom de Manuel Cambeses Júnior. O autor é coronel-aviador da reserva da Força Aérea; conferencista da Escola Superior de Guerra; membro titular do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil e Vice-Diretor do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (INCAER).

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