sábado, agosto 06, 2011

TEXTO PARA 7ª SÉRIE - ISAAC NEWTON - AMÉRICA LATINA - Região de maior desigualdade social no mundo!!!


Uma década após a primeira guinada à esquerda registram-se alguns resultados positivos

Um fantasma paira sobre a América Latina, aquele do socialismo do Século XXI. Um socialismo que não tem características comuns com aqueles conhecidos como "socialismo existente" (Estado de partido único, economia plenamente controlada), mas, também, nada igual com a social-democracia européia de hoje que, ao que tudo indica, está entregue, incondicionalmente, aos ditames do neoliberalismo.

Aliás, apesar da tendência comum, da ascensão ao poder em quase a América Latina toda, nos últimos anos, de governos de esquerda, as aproximações políticas para solução dos sérios problemas econômicos e sociais diferem.Existe, contudo, uma tendência comum: o esforço de "desindexação" da forte influência de Washington, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e das receitas neoliberais da década de 1980.Para se tornar compreensível a guinada à esquerda, iniciada pela Venezuela, em 1998, e expandida no Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Equador e Nicarágua, é preciso recorrer a dois parâmetros básicos: a gigantesca desigualdade social e pobreza - acrescentando as criminosas discriminações do colonialismo contra as populações indígenas, o fracasso das políticas neoliberais da década de 1990 e - as crises econômico-fnanceiras e monetárias que aquelas políticas causaram.De acordo com dados de pesquisa recente, realizada pela Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU), a América Latina é a região de maior desigualdade sócioeconômica do mundo.Os países com a maior desigualdade são (relatório da ONU deste ano) a Bolívia (60,1%), Colômbia (58,6%), Paraguai (57,8%) e Chile (57,1%). Também o Banco Mundial (Bird), em seu relatório, destaca que "quase 25% do total da população da América Latina sobrevive com menos de US$ 2 por dia."A pesquisa da Cepal constatou, ainda, que o desemprego na região aumentou - pelo menos - em 10%. Em determinados países, como a Argentina, o desemprego cresceu de 8,8% em 1990, para 19,7% em 2002, enquanto no Uruguai aumentou de 8,5% para 17%.Importante, contudo, é a constatação do Bird sobre a pesada herança deixada pelo colonialismo europeu: "Na Guatemala, Bolívia e Brasil, três países, nos quais as diferenças étnicas e tribais desempenham papel importante, mais de 50% das famílias de brancos têm acesso à rede de esgoto, contra apenas 30% das indígenas", menciona, caracteristicamente, o relatório do Bird.A crise monetária que atingiu Brasil e Argentina no final da década de 1990 acrescentou às massas de pobres gente da classe média. A política de indexação com o dólar e a liberalização do mercado com privatizações que adotou o denominado "novo Peron", líder da Argentina, Carlos Menem, na década de 1990 resultaram, com a crise dos mercados emergentes, na fuga em massa dos capitais e levaram a Argentina à derrocada.Resultados expressivosO congelamento das contas bancárias levou, sob o peso de violentas manifestações populares, à queda do governo De La Rua, em 2001. Fábricas foram abandonadas e enquanto seus ricos proprietários fugiam para o Paraguai - a "Suíça" da América Latina - seus trabalhadores assumiam a autogestão das empresas abandonadas, com bastante sucesso.Quase uma década após a primeira guinada à esquerda dos países da América Latina e, apesar das críticas e disputas políticas, registram-se alguns resultados positivos em relação à solução dos problemas.Na Argentina, o Governo Kirchner - o mais conservador de centro-esquerda - conseguiu reduzir o desemprego de 18,3%, em dezembro de 2001, para 10,2% em dezembro do ano passado. Reestatizou os Correios e a Companhia de Águas de Buenos Aires e criou novas empresas estatais - uma de transporte aéreo, outra de energia elétrica e uma terceira de satélites.Mas, o resultado mais importante foi o resgate da dívida da Argentina com o FMI, de mais de US$ 9 bilhões, sem sofrer outras políticas restritivas, graças, também, à ajuda da Venezuela, que financiou o pagamento da dívida argentina.O reeleito - apesar das denúncias de escândalos envolvendo altos funcionários de seu governo - presidente Lula, do Brasil, conseguiu, entre 2003 e 2005, criar 3,5 milhões de postos de trabalho.De acordo com dados da Faculdade de Economia da Fundação Getulio Vargas, o indicador de pobreza de 27,3% da população em 2003, foi reduzido para 25,1% em 2004. A renda real das famílias mais pobres cresceu 28% entre 2004 e 2005, enquanto aumentou em 25% o salário mínimo.O líder da Venezuela, Hugo Chávez, foi o primeiro a adotar uma linha mais radical, assustando Washington, que tentou - sem sucesso - derrubá-lo com um golpe de Estado, caracterizando-o de "novo Fidel Castro".Chávez não promoveu nacionalizações (a empresa estatal de petróleo PDVSA já havia sido estatizada desde 1975), mas renegociações dos contratos das empresas petrolíferas, destinando substancial parcela das arrecadações do caro petróleo a programas de política social.Nos bairros pobres da Venezuela está sendo executado um interessante programa de controle social, com a criação de "comissões", "corpos legislativos" e "bancos comunitários", estes últimos responsáveis pelo financiamento direto, desviando-se das estruturas burocráticas dos grandes bancos.Nova uniãoNos rastros de Chávez, o esquerdista indígena presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, promoveu logo após sua eleição a nacionalização das reservas naturais de seus país. Morales deu um passo a mais, promovendo a formação de uma nova união latino-americana de países - a exemplo da União Européia - e fixou um prazo de 50 anos para sua consolidação, embora alimente esperanças de que será necessário um período menor.Morales fala sobre uma união política, econômica e social de países, apoiada sobre a colaboração e solidariedade. Neste momento, existem na América Latina duas uniões periféricas e econômicas de países: a Comunidade Andina de Nações, da qual participam Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, enquanto, a Venezuela se retirou, recentemente, em sinal de protesto contra os acordos de livre comércio formalizados entre a Colômbia e o Peru com os EUA.A Venezuela se integrou ao Mercosul, do qual já participam Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, enquanto o Chile, embora uma das economias mais fortes da região, não participa de nenhum dos agrupamentos.Já Chávez, que até agora não conseguiu se entender com seus novos parceiros, pediu a dissolução tanto da Comunidade Andina de Nações, quanto do Mercosul, e a criação de um novo bloco, que seria a Alba, de sua inspiração.Os esforços para criação de um novo bloco latino-americano de países constitui um sério golpe contra a política de Washington, que já tentou implantar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), mas fracassou, depois do fiasco da Reunião de Cúpula realizada em Mar del Plata, na Argentina, ano passado.Até onde poderão chegar as mudanças na América Latina ninguém poderá prever. Assim como ninguém poderá afirmar - com absoluta certeza - se o socialismo do Século XXI é uma nova experiência de mudanças sociais ou uma consensual guinada à esquerda.Aconteça o que acontecer, o fato é que um novo ambiente está se conformando na América Latina. E não é pouco, se se considerar que um continente que conheceu ditaduras como as de Pinochet, Banzer, Videla, Stroesner e de vários outros de fisionomias criminais de menor expressão e prontuários idem busca saídas à esquerda com governos eleitos com esmagadoras maiorias, os quais priorizam em suas agendas temas como as desigualdades políticas, econômicas e sociais, os recursos naturais dos países e a cooperação e solidariedade periférica.E, sob este ponto-de-vista, seguramente alguém poderá se referir a "dividendos democráticos", conforme escreveu, recentemente, a Economist, se levar em consideração que, até recentemente, o tom das evoluções nos países da região "saía dos canos das armas de repressão".

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