Estes dias eu estava em sala, "trocando uma ideia" com as minhas crianças da Rede Isaac Newton e começamos a bater um papo sobre Guerra Fria, tema do 9º ano, neste momento. Falamos da instauração do "American Way of Life", influência do cinema...demonização dos soviéticos, etc. Passei a eles inclusive alguns trechos do filme Rock IV... e da fatídica luta entre Rocky e Draco em plena Moscou. no ano em que Gorbatchev instaura a Perestroyka e o Glasnost. Falamos a
respeito da expansão do socialismo pelo mundo até que foi levantada a
questão dos mecanismos utilizados por ambos os lados para difundir as
ideologias e, principalmente, como cada lado tentava de todas as
maneiras “demonizar” o rival.
Nesse caso, acredito que os exemplos mais evidentes de “demonização”
ideológica foram feitos pelo bloco capitalista. Não estou ignorando a
propaganda soviética, mas pelo menos para nós brasileiros, a influência
norteamericana foi muito forte. Sempre que me refiro à esse assunto me
vem a memória os filmes da série 007. O espião-galã britânico
sempre tinha como inimigo um soviético (interessante que nas versões
mais atuais os inimigos são os terroristas). Talvez possa citar também
os super-heróis Marvel, por exemplo, Wolwerinw, da qual eu sou fã nº 1, dentre os seus grandes inimigos, sempre me chamou atenção um tal de Omega Red, vilão que mora em Moscou, que sempre foi aliado do "terrorismo"
Voltaremos ao caso de hoje. Quando estávamos falando sobre tal assunto, me veio à memória a série de vídeo-game Street Fighter. Todo “garoto” até os trinta anos sabe muito bem do que estou falando. Eu mesmo de vez em quando me vejo dando uns “hadouken” por aí! Todavia, foi muito recentemente que fui compreender algumas mensagens subliminares presentes do game.
A primeira delas é o fato de que todas as personagens e cenários são
estereotipados. Todo mundo deve se lembrar do cenário brasileiro criado
para o Blanka, mistura homem-monstro, que em grande medida não
agrada aos brasileiros. Pode-se observar o cenário como uma recriação
“mitológica” da Amazônia. A besta verde, recebe seus inimigos à margem
de um rio, cercado de pescadores e ao centro, uma anaconda enrolada à
uma árvore. Talvez os japoneses não conheçam São Paulo.
Outro exemplo interessante é o cenário do Zanguief. Nele
está claro a intenção politica do game. O brutamontes soviético recebe
seus oponentes no pátio de uma indústria (provavelmente de base).
Percebe-se também a presença de operários na torcida e a evidente “foice
e martelo” ao chão, símbolo do socialismo soviético.
Poderia citar outras bizarrices nos cenários das personagens, como por exemplo o salão repleto de elefantes do hindu Dhalsin , a populosa Pequim de Chun Li ou também o gigante ofurô do E. Honda.
Todavia, o interesse do texto é destacar os aspectos ideológicos
implícitos nessas representações. Ponto curioso que percebi é que todos
os cenários de personagens norteamericanos estão vinculados ao “sucesso”
capitalista. O Coronel Guile, herói da versão do game para o
cinema, luta numa base da Força Aérea Americana, rodeado de recrutas e,
por que não, mulheres. O almofadinha Ken Masters recebe seus
oponentes em um píer, com um iate ancorado. Sem falar no pugilista da
série, M. Bison (ou Balrog na versão americana), que luta em pleno salão
de jogos de Las Vegas.
Agora, o mais interessante de tudo o que meu olhar superficial captou do jogo refere-se ao brutamontes Zangief.
Ao meu ponto de vista, tal personagem é uma metáfora da antiga URSS. A
começar pela nacionalidade explicita no game. O gigante soviético
(alusão à Rússia), que luta em uma fábrica (referência aos investimentos
soviéticos em indústria de base) e que, por incrível que pareça, é o
único que não possui magias. Ao contrário de Ken e Guile com
seus “meia lua e soco”, o troglodita só pode recorrer a golpes de luta
livre, que só atingem o oponente em curta distância. Deixando claro um
certo desprezo dos jogadores ao lutador. O brutamontes era até motivo de
chacota na minha turma: “ah, de você eu ganho até com o Zanguief!”, (claro que nunca perdi!).
Continuando minha análise ideológica do game, não poderia deixar de lado o momento máximo do jogo: a finalização. Ken Masters e Guile,
terminam o jogo de um modo bem tradicional, conservador ou pelo menos
que se encaixa à moral burguesa. O primeiro se casando e o segundo em
uma confortável casa acompanhado da família.
Já o lutador soviético tem um final bastante curioso. O jogo mais popular da serie, o Street Fighter II, foi lançado em 1991, ano que, coincidentemente ou não, foi marcado pelo fim da URSS. Finalizando o jogo com o Zanguief,
aparece dos céus, descendo de um helicóptero, um individuo de terno e
gravata. Tal individuo, chamado pelo lutador de “grande líder”, agradece
os feitos do camarada Zanguief para os soviéticos. Logo após
(agora o mais interessante) o “grande líder” (que em outras versões mais
modernas do game é chamado de “ex-presidente”) aparece “dançando” com o
lutador.
Bom, posso estar equivocado, mas isso é uma referência quase que
explicita ao ex-Secretário-Geral do Comitê Central do Partido Comunista
da União Soviética, Mikhail Gorbachev, responsável pelas reformas
politicas e econômicas que possibilitaram a abertura do regime
socialista soviético. Desse modo, os criadores do jogo buscaram
“comemorar” ou se não até ridicularizar o modelo socialista soviético,
que já estava em declínio. Bom, quem ainda assim não concordar com minha
opinião, dê uma olhada na foto do ex-secretário e tire as suas próprias
conclusões.
Bom pessoal, desse modo me despeço dos leitores. Procurei fazer um
texto descontraído e talvez até nostálgico. Entretanto, apesar das
ponderações (às vezes até forçadas) sobre a guerra fria, acho que deu
pra relembrar e divertir um pouco. Agora vou desligar meu computador,
ligar o meu Super Nintendo e jogar uma boa partida de Street Fighter II, com o Zanguief, é claro!
Um comentário:
professor vc e um cara foda demais
ajuda seus alunos e legal
e te considero pakas
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