TRABALHO INDUSTRIAL
Podemos estudar as transformações dos modelos de produção e de trabalho de diversas maneiras, com os mais variados enfoques. Vamos procurar delimitar um pouco esse processo histórico, enfatizando apenas alguns pontos que nos são mais pertinentes, ou seja, as mudanças que ocorreram no período final da Idade Média e, que de uma forma ou outra, facilitou as transformações que passaram a ser vistas a partir principalmente do século XVIII. Se vamos pensar desde a Baixa Idade Média, temos que nos referir ao Renascimento Comercial que, em meados do século XII já começa a assumir relativa importância no contexto histórico que vamos nos deter agora. Esse florescimento comercial, impulsionado pelas inovações técnicas na agricultura e pelo conseqüente crescimento populacional vão ser nosso pano de fundo. Intimamente ligado a esses fatores, esteve o não menos importante renascimento urbano: as cidades passaram a ser um centro dinâmico de atividades artesanais e comerciais. Os últimos séculos medievais caracterizaram a dissolução do sistema feudal e a formação do sistema capitalista. Assim, nesse processo de mudanças o trabalho de estrutura familiar vai prevalecer. O espaço temporal do trabalho é o dia, condicionado pela luz solar: ao nascer do sol inicia-se a jornada de trabalho, que só vai encerrar-se com o crepúsculo. As sociedades dessa época adoravam as forças da natureza, elas acreditavam num misticismo mágico que orientava e regulamentava suas vidas – isso mesmo apesar de ser prática comum tentar caracterizar o Medievo como um período de teocentrismo exacerbado. Se já sabemos qual era o espaço temporal do trabalho nessa sociedade medieval, resta-nos saber qual era o espaço físico do trabalho: é o espaço do lar, da residência e dos arredores da casa familiar. Vai ser nesse espaço que o trabalho vai ser executado.
Se pensarmos em alguns tipos de trabalhadores dessa época, como os agricultores, os sapateiros e os alfaiates, poderemos verificar a real utilização do espaço temporal do dia e do espaço físico do lar para o trabalho.
O agricultor, com sua família, trabalha nos arredores de sua casa, num terreno concedido pelo seu senhor, plantando batatas, por exemplo. Trata a terra, semeia, cuida do crescimento de sua lavoura e colhe as batatas. Seus familiares, sua mulher e seus filhos, ajudam-no sempre.
O dia regulava a atividade produtiva, a família era parte integrante da força detrabalho. A imagem acima éOs comedores de batata, de Van Gogh.
O sapateiro, também com sua família, trabalha na sua casa. A oficina onde ele fabrica seus sapatos é a sua casa; o espaço do lar e o espaço do trabalho quase que se confundem. Em sua casa ele mora, alimenta-se, dorme e trabalha. Podemos perceber, então, que o espaço do trabalho é o espaço do lar, e vice-versa. Não havia uma fábrica de sapatos ou um lugar apropriado exclusivamente destinado ao fabrico de sapatos.
Da mesma maneira temos o alfaiate, que juntamente com seus familiares confecciona roupas no espaço do seu lar.
Muitos trabalhadores deixam o campo e vão para as cidades. As crianças são muito procuradas para o trabalho nas indústrias.
É importante ressaltar como o trabalho feminino e o trabalho infantil estão presentes nessa sociedade. As necessidades de sobrevivência e as obrigações servis contribuem para isso. As crianças, desde que já possam exercer alguma atividade laborativa, ingressam no mundo do trabalho para auxiliar na economia familiar. Nessa lógica, quanto mais filhos, maior poderia ser o aproveitamento produtivo. Pelo menos era assim que se apresenta aquela sociedade e, de maneira não muito distante, podemos observar a mesma lógica sendo empregada nas comunidades rurais mais atrasadas atualmente.
A preferência por mulheres e crianças nas tarefas que não exigiam força braçal tinha explicação no preconceito industrial burguês de que estes dois grupos de trabalhadores seriam mais facilmente domesticados, ou seja, mais fáceis de serem disciplinados e intimidados.
Com o comércio e o crescimento urbano se destacando nos anos finais da Idade Média, o mercado torna-se o espaço por excelência das trocas, do comércio, ainda que incipiente. Ora, se o mercado assume relativa importância no contexto das mudanças do trabalho, o mercado também vai contribuir nesse processo. A utilidade do mercado, da praça do mercado, onde as trocas ocorriam, só se dá depois que a cidade assume, no interior daquela sociedade medieval, o papel de centro aglutinador de pessoas e de produtos, frutos do trabalho de agricultores e artesãos.
A cidade, por si só, vai ser o espaço, cada vez mais, do trabalho. Rompendo as fronteiras do espaço temporal do dia e do espaço físico dos lares, o trabalho vai sendo executado no espaço da cidade, seja dia ou seja noite, seja em casa ou seja nas fábricas. Não só o espaço do trabalho é rompido: a estrutura feudal que vigorou durante quase toda a Idade Média rui.
Aos poucos a produção manual e rural é substituída pela industrial e urbana.
A ruína do sistema feudal cede vez ao surgimento do que costumamos chamar de sistema capitalista. À ruína de um e surgimento de outro foi decisiva a transformação efetivada pela ação dos reis e da burguesia: a expansão comercial, patrocinada pelos reis e enormemente apoiada, quando não financiada, pela burguesia emergente do rápido crescimento das relações comerciais particularmente citadinas (burgueses comerciantes, financistas e industriais).
O declínio do sistema feudal também faz com que decline o poder descentralizado dos senhores feudais, dando vez a um período em que os reis assumirão enorme poder rumo aos grandes Estados Nacionais, o Estado Moderno detentor central do poder.
Uma das evidências mais marcantes nesse processo histórico foi a da transformação de uma bipolarização social tipicamente feudal, a do senhor versus servo, para uma outra bipolarização, que é a marca maior do capitalismo: burguês versus proletário.
A nova estrutura social, a do sistema capitalista, não surgiu imediatamente após o declínio do sistema feudal, mas num processo lento e não tão longo. O crescimento comercial e urbano e a produção cada vez maior não foram o fator determinante: a produção em larga escala é que vai caracterizar definitivamente a revolução capitalista, pois é na transformação dos produtos em mercadorias que o sistema capitalista vai se firmar. O valor de uso dá a vez ao valor de troca.
O industrial burguês vai ser o proprietário dos meios de produção.
A partir da Revolução Industrial os trabalhadores deixam de dominar o processo produtivo e vendem sua força de trabalho por salários.
O trabalho na sociedade capitalista também vai diferir do da sociedade feudal. Os trabalhadores, antes detentores do seu próprio trabalho e com domínio total do processo produtivo, passam a ser trabalhadores que irão vender sua força de trabalho em troca de um pagamento. O tempo de trabalho e o espaço para o trabalho são outros. O uso do relógio vai permitir que se mensure a quantidade de trabalho em horas. O espaço físico, não mais o lar, mas a fábrica, vai condicionar os trabalhadores a um disciplinamento constante. A própria atividade laborativa exigirá disciplina na execução de tarefas mecanicamente repetitivas.
Um aspecto de continuidade pode ser aqui apreciado: todos os membros da família do trabalhador também eram trabalhadores, submetidos sem distinção aos mesmos trabalhos. A diferença é a intensa procura por mulheres e crianças para as fábricas, pois o baixo custo compensava, tendo em vista que as mulheres ganhavam muito menos do que os homens, e as crianças ganhavam muito menos que as mulheres. Um dos motivos, além do barateamento de custos, era a maior facilidade de se disciplinar esses dois grupos de operários.
Dá-se início ao processo de industrialização que culminará, na Inglaterra de forma mais aparente, na Revolução Industrial.
O cenário urbano ganha as paisagens e favorece o surgimento de novos hábitos de convívio social.
Como se produziam cada vez mais mercadorias, foi sendo buscado pelos proprietários burgueses formas de se aumentar o lucro reduzindo-se as despesas, fosse pela incrementação tecnológica das unidades produtivas, fosse pela maxiexploração dos operários(jornadas intermináveis de trabalho em locais insalubres, com baixíssima remuneração).
A introdução de inovações tecnológicas no corpo das fábricas vai ser muito cara para os trabalhadores de modo geral. Cada nova tecnologia representava, quase sempre, a redução dos postos de trabalho em nome do aumento da produtividade. O ponto culminante dessa trajetória foi, sem dúvida, a introdução da máquina a vapor.
A primeira fase da Revolução Industrial é identificada com o uso da energia a vapor e com o uso do ferro. As estradas ferroviárias tornaram-se o principal meio de comunicação, nos dois sentidos: levando para as fábricas matérias-primas e devolvendo nos mesmos vagões os produtos destinados ao mercado consumidor.
O contexto histórico decorrente da Revolução Industrial inchou as cidades. Camponeses em busca de melhores condições de vida migravam e se deparavam com um cenário um tanto quanto desolador. Para descrever o cenário das fábricas que tanto atraíram camponeses, bastam duas palavras: periculosidade e insalubridade. Periculosidade é o estado ou qualidade de algo que é perigoso. Insalubridade é a qualidade daquilo que origina doenças. Jornadas excessivas de trabalho; ritmo frenético das máquinas; a rotina do todo dia tudo sempre igual; fábricas sombrias, com pouca luminosidade, quentes e úmidas, quase sem nenhuma ventilação. O descontentamento era lugar comum no meio dos trabalhadores.
Descontentes, expulsos de seus postos de trabalho, sem emprego e sem mínimas condições de sobrevivência, os trabalhadores operários começaram a se organizar. Há, também, uma longa trajetória nesse processo histórico do trabalho até os trabalhadores operários definirem sua organização.
Numa segunda fase, vamos perceber a introdução de outras inovações tecnológicas, como a utilização de outras fontes de energia que não o vapor - a eletricidade e o petróleo são bons exemplos. Graças às novas fontes de energia foi possível criar novas máquinas e ferramentas. Em decorrência disso, uma outra estrutura de trabalho é colocada em prática.
Logo nas primeiras décadas do século XX, em Detroit, Henry Ford coloca em prática na sua fábrica de automóveis a produção em série, através das famosas linhas de montagem. Essa nova forma de trabalho consistia na avançada fragmentação de tarefas entre os diversos operários de sua fábrica.
Henry Ford e seu filho num Modelo T. A linha de montagem modificou totalmente a estrutura das fábricas e o trabalho do proletariado.
Ou seja, cada trabalhador seria responsável por uma única tarefa, que deveria ser repetida infinitamente de forma a se alcançar uma maior produtividade. O sistema fordista de produção está diretamente ligado aos fundamentos propostos pelo conjunto de teorias desenvolvidas pelo engenheiro norte-americano Frederick Winslow Taylor para aumentar a produtividade do trabalho industrial.
Na busca pela eliminação do desperdício e da ociosidade operária e pela redução dos custos de produção, Taylor iniciou seus estudos sobre a Ciência da Administração, no começo do século XX. Desenvolveu técnicas de racionalização do trabalho operário e, em 1903, analisou e controlou o tempo e o movimento do homem e da máquina em cada tarefa, para aperfeiçoá-los e racionalizá-los gradativamente. Com base na idéia de que a eficiência aumenta com a especialização, Taylor dividiu o trabalho e limitou cada operário à execução de uma única tarefa, de maneira contínua e repetitiva.
A linha de montagem: a especialização e a repetição, produção para as massas com o mínimo custo. A foto a direita mostra a linha de montagem da Romi Isetta, os primeiros veículos automotores a serem fabricados no Brasil.
Para obter a colaboração dos funcionários, foram estabelecidos remuneração e prêmios extras. A produção individual, até o nível de 100% de eficiência no tempo padrão (tempo médio que um operário leva para executar as tarefas), era remunerada conforme o número de peças produzidas. Acima dessa porcentagem, a remuneração por pela seria acrescida de um prêmio de produção ou incentivo salarial adicional, que aumentava à medida que a eficiência do operário era elevada. Além de racionalizar o trabalho do operário, Taylor tentou mudar o comportamento dos supervisores, chefes, gerentes e diretores que ainda trabalhavam nos velhos padrões, criando, assim, a Administração Científica, que foi rapidamente aplicada na indústria americana, estendendo-se a todos os países e campos de atividade.
No entanto, seus princípios de superespecialização foram criticados por robotizar o operário, fazendo-o perder a liberdade e a iniciativa de estabelecer sua própria maneira de trabalhar. Na segunda metade do século XX, quase todas as indústrias já estavam mecanizadas e a automação alcançou todos os setores das fábricas. As inovações técnicas aumentaram a capacidade produtiva das indústrias e o acúmulo de capital. As potências industriais passaram a buscar novos mercados consumidores, fruto do neocolonialismo. Os empresários investiram em outros países. Os avanços na medicina sanitária favoreceram o crescimento demográfico, aumentando a oferta de operários. Nos países desenvolvidos, surge o fantasma do desemprego.
A dobradinha Ford-Taylor orientou durante décadas a estrutura de trabalho no interior das fábricas. A busca pela maior produtividade com o menor custo levou a fábrica de Ford a construir um carro que, graças à racionalização do trabalho, teve seu custo reduzido significativamente: foi o Ford Modelo T, completamente produzido dentro da fábrica Ford e respeitando na sua fabricação todos os preceitos fordistas-tayloristas. A produção desse carro em série tinha, porém, um inconveniente, se assim podemos dizer: todos os carros eram produzidos iguais, em todos os sentidos. Como o objetivo principal era a redução de custos e o aumento da produtividade, o Modelo T só poderia ser fabricado de um mesmo jeito, inclusive na sua cor. Isso levou Ford a criar uma campanha publicitária dizendo que todo americano poderia ter o seu Ford Modelo T da cor que quisesse, contanto que a cor fosse preta. Era o paradigma da produção em série para atender a demanda de uma sociedade tipicamente de massa. Uma pequena observação: todo americano poderia ter o seu Ford Modelo T, no entanto, os funcionários da Ford dificilmente conseguiram comprar o seu Modelo T.
Essa estrutura de trabalho predominou no mundo inteiro no mundo inteiro até o final da Segunda Guerra Mundial, quando, no outro lado do mundo, no Japão, surge um novo sistema de trabalho, procurando otimizar os lucros ao mesmo tempo em que se reduziam as despesas. Foi também no interior de uma fábrica de automóveis que surgiu o novo sistema, conhecido como toyotismo.
Se o sistema fordista-taylorista foi enormemente criticado por robotizar os trabalhadores, não lhes dando a chance de criar e participar do processo de produção de maneira livre e participativa, o sistema toyotista se caracteriza principalmente por delegar aos trabalhadores a possibilidade de decidirem qual a melhor maneira de exercerem seus trabalhos. Um ponto que permanece valendo, tanto para um sistema quanto para outro, é a busca pela maior produção aliada com o menor desperdício.
No sistema toyotista, ao invés de o trabalhador participar unicamente com sua força de trabalho sempre repetitiva, ele tem a chance de poder inovar dentro do processo de produção. Surgem conceitos que orientam o trabalho dentro das fábricas: team work e qualidade total são sinônimos do sistema toyotista. Com isso, o trabalho realizado por times dentro da fábrica em busca da qualidade total vai resolver alguns dos problemas da era fordista-taylorista, mas trazer alguns outros, para os trabalhadores, é claro.
No primeiro sistema, a unidade fabril era o palco exclusivo de todo o processo produtivo. Por exemplo, na Ford do início do século XX, o Modelo T era totalmente fabricado no mesmo lugar. Desde suas etapas iniciais até o acabamento final, o carro ficava dentro do mesmo complexo industrial. Na Toyota japonesa do pós-guerra, o carro não é produzido inteiramente na mesma unidade. Algumas peças são produzidas em fábricas fornecedoras, localizadas na mesma região ou em qualquer outro lugar do planeta, buscando mercados de mão-de-obra mais baratos e livres de encargos sociais e trabalhistas.
A conseqüência imediata dessa fragmentação é a dissolução do poder operário que, parcelado em pequenas unidades produtivas, perdeu sua capacidade de organização, razão da força importantíssima dos sindicatos.
Burguês versus proletário. As revoluções de 1848 trouxeram a tona a luta de classes como principal paradigma a ser enfrentado no modo de produção capitalista. 1848 é o ano que Karl Marx e Friederick Engels publicam o Manifesto Comunista, convocando os proletários do mundo a pegarem em armas e enfrentarem a burguesia na revolução do proletariado.
Enquanto que na Ford produzia-se um mesmo carro para um público de massa, na Toyota a produção foi sendo gradativamente personalizada, com o intuito de atender maiores parcelas de um público consumidor. Se a Ford só produzia carros de cor preta, a Toyota conseguiu produzir carros de todas as cores sem perder no quesito economia. A saída encontrada foi a brusca redução dos estoques, dinamizando as relações entre a Toyota central e suas fornecedoras. Um complexo esquema utilizando-se de modernas tecnologias de comunicação possibilitou tal empreendimento, dando vez ao que se costuma chamar de era da informação.
A rapidez cada vez maior com que se davam as mudanças no mundo do trabalho fez com que uma parcela muito grande de trabalhadores ficasse sem emprego. O sistema toyotista só foi alcançar o Ocidente com fortes impactos na década de 1970 e 1980, principalmente na Inglaterra. Esse período é conhecido como o término dos anos dourados, ou dos trinta gloriosos (período que compreende o fim da Segunda Guerra Mundial e que vai até meados da década de 1970).
A crise mundial do petróleo foi um dos fatores que condicionaram o término da estrutura fordista de produção. A fábrica centralizada, de enormes dimensões, dá vez às fábricas descentralizadas, de dimensões adequadas. O que mudou nesse processo de transformações? O mundo do trabalho e as condições dos trabalhadores, principalmente. A qualidade total introduzida nas fábricas fez com que o desperdício fosse eliminado em grande escala: se em cada três trabalhadores elimina-se 30% de desperdício no trabalho de cada um, ou, em outras palavras, potencializa-se em 30% o trabalho de cada um, tem-se como resultado a possível eliminação de um dos três trabalhadores, pois os dois que restariam produziriam quase a mesma quantidade que os três anteriormente.
Então, juntamente com a qualidade total também foram sendo introduzidas novas máquinas, mais precisa e mais produtivas. Na época de Ford, os trabalhadores faziam carros com as máquinas. Na Toyota, os trabalhadores faziam com que as máquinas fizessem carros.
A dicotomia acima apresentada vai gerar uma crescente diminuição dos postos de trabalho industriais, com o deslocamento desses trabalhadores para os setores de prestação de serviços. De qualquer forma, a transferência de um enorme contingente de trabalhadores de um setor para outro não resolveu os problemas de demanda de emprego, principalmente os problemas de qualificação.
Resta-nos agora, na terceira fase da Revolução Industrial, em que energias alternativas, plástico e silício são a força matiz, buscar soluções para um mundo de desempregados e trabalhadores sem qualificação. Resta-nos trabalhar no sentido de incluir essa grande quantidade de pessoas em um limite suportável de sobrevivência, antes que o abismo entre classes sociais torne cada vez mais essencial a utilização de milícias particulares de segurança, de cercas eletrônicas e câmeras indiscretas que nos controlam a vida. É o Grande Irmão apresentado em um novo contexto histórico. A permanência continua sendo a luta de classes, o motor da história.
Lênin, um dos grandes líderes da revolução do proletariado russo. A busca por melhores condições de trabalho e garantias sociais levou os trabalhadores a obterem grandes conquista, principalmente durante o século XX.
História, causas, modos de produção da Revolução Industrial.
Revolução Industrial
Revolução industrial foi um conjunto de mudanças que ocorreram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal característica dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado com o uso das máquinas. Até o fim do século XVIII grande parte da população européia vivia no campo e produzia o que consumia. Na forma artesanal o produtor dominava todo o processo produtivo.
Apesar da produção ser predominantemente artesanal, países como a Inglaterra e a França, possuíam manufaturas. As manufaturas eram grandes oficinas aonde diversos artesãos faziam as tarefas manuais, porém subordinados ao dono da manufatura.
A Inglaterra foi pioneira na Revolução Industrial devido a diversos fatores, tais como: o fato do país possuir a mais importante zona de livre comércio da Europa, a rica burguesia, o êxodo rural, a localização privilegiada junto ao mar o que facilitava a exploração dos mercados ultramarinos.
Como muitos empresários desejavam lucrar mais, o trabalhador era explorado sendo obrigado a trabalhar até 15 horas por dia por um salário baixo. Além disso, mulheres e crianças também era obrigados a trabalhar para sustentar suas famílias.
Alguns trabalhadores se revoltaram com as péssimas condições de trabalho, e começaram a sabotar as máquinas, ficando conhecidos como “os quebradores de máquinas“. Alguns movimentos também surgiram nessa época com o intuito de defender o trabalhador.
O trabalhador perdeu o conhecimento de todo o processo de fabricação passando a executar apenas uma etapa.
Primeira etapa da Revolução Industrial
Durante (1760-1860), a Revolução Industrial ficou limitada, basicamente, à Inglaterra. Houve o surgimento de indústrias de tecidos de algodão, com o uso do tear mecânico. Nessa época o aperfeiçoamento das máquinas a vapor contribuíram para a continuação da Revolução.
Segunda Etapa da Revolução Industrial
A segunda etapa ocorreu de 1860 a 1900, ao contrário da primeira fase, países como França, Alemanha, Itália e Rússia se industrializaram. A utilizacão do aço, o aproveitamento da energia elétrica e dos combustíveis derivados do petróleo, a invenção do motor a explosão, da locomotiva a vapor e o desenvolvimento de produtos químicos foram as principais inovações desse período.
Terceira Etapa da Revolução Industrial
Os avanços tecnológicos do século XX e XXI tem sido vistos por alguns historiadores como a terceira etapa da Revolução Industrial. O computador, o fax, a engenharia genética, o celular seriam algumas da inovações dessa época.
Fordismo, Administração de Empresas e a Indústria de Automóveis do Início do Século 20
Fordismo: Lançando as bases para a gestão e administração de empresas modernas
Henry Ford, nascido na cidade Americana de Springwells em 30 de Julho de 1863, foi um empresário a frente de seu tempo.
Ao contrário dos outros empresários e teóricos da administração de empresas da época, Ford sempre viu o consumo da população como forma para trazer o bem estar social.
Idealizador do Fordismo e fundador da Ford Motor Company em 1903 ( aos 40 anos de idade ), Ford certa vez afirmou:
” O dinheiro é a coisa mais inútil do mundo; não estou interessado nele, mas sim no que posso fazer pelo mundo com ele. ” e assim fez durante toda a sua vida.
A teoria do Fordismo era revolucionária para a época pois pela primeira vez o bem estar social foi levado em conta para se atingir o sucesso financeiro.
Para poder ganhar mais dinheiro, Ford desenvolveu um sistema onde pagava melhor os empregados e também onde vendia produtos mais baratos.
Mas segundo os conceitos básicos da administração de empresas aumentar os custos ( pagar melhor os funcionários ) e reduzir o valor de venda dos produtos não tráz justamente o prejuízo ?? Sim, tráz !! Mas essa era justamente a questão chave: no Fordismo, o lucro não vem da venda de produtos caros e luxuosos e sim da venda de produtos baratos, simples e que todos podem comprar, o lucro para o Fordismo deve vir da quantidade de produtos vendidos.
Esse conceito, a produção em escala industrial, passou a ser a base da administração de empresas e da indústria mundial a partir de então.
Antes da introdução do Fordismo no início do século 20, a indústria de automóveis era voltada para o público rico. Os automóveis eram um artigo extremamente raro e luxuoso que somente os ricos poderiam ter: eles custavam o preço de uma casa e exigiam uma manutenção caríssima também.
Como poucos eram vendidos, não havia estímulo para a evolução tecnológica dos carros, os automóveis do início do século 20, época em que Ford fundou a sua empresa, eram praticamente os mesmos de 50 anos atrás.
Foi nesse cenário que Ford visualizou a sua grande chance de se destacar na administração de empresas e mudar para sempre o mundo ocidental.
A Fundação da Ford Motor Company e o Início do Fordismo
Henri Ford: Suas teorias mudaram para sempre o modo de administrar empresas
Com alguns dólares no bolso ( 28.000 dolares pra ser mais exato ) e umas boas idéias na cabeça, Ford juntamente com mais 11 investidores que acreditaram na teoria do Fordismo fundou a Ford Motor Company em 1903.
Para demonstrar que carros de alta qualidade tecnológica poderiam ser produzidos a um preço barato ( um dos princípios do Fordismo ), um protótipo produzido pela Ford Motor Company bateu em 1904 o recorde de velocidade terrestre até então andando 1 milha ( aproximadamente 1,6 kilometros ) em 39,4 segundos ( quase 140 quilômetro por hora !!! )
Assim que iniciou as atividades da sua montadora de carros, uma das primeiras medidas de Ford foi pagar 5,00 dolares por dia aos seus funcionários ( pagar bem aos funcionários era outro princípio básico do Fordismo ).
Apesar de parecer pouco para os dias de hoje, na época os especialistas em administração de empresas ficaram assustados: ningúem nunca pagou um salário tão alto para um operário de fábrica !!
Por pagar bem aos empregados aconteceu um fato interessante: os melhores mecânicos e profissionais de engenharia mecânica dos Estados Unidos acabaram todos indo para a Ford Motor Company, isso aumentou muito a capacidade tecnológica da empresa e permitiu que em poucos anos eles já estivessem lançando os melhores carros da América ( superioridade tecnológica para baixar custos, outro princípio do Fordismo ).
O Projeto de uma Fábrica Segundo o Fordismo
Segundo a concepção Fordista, a fábrica antes de mais nada, deve seguir o modelo de administração de empresas vertical. Em outras palavras, tudo deve pertencer ao mesmo dono e deve ser controlado de maneira centralizada.
Quando construiu a fábrica da Ford Motor Company, Henry Ford projetou uma fábrica gigantesca: basicamente entravam as matérias primas de um lado ( borracha, aço, ferro, madeira, vidro ) e saiam carros prontos do outro lado, tudo era fabricado no mesmo local e seguindo uma ordem lógica específica.
Os motores, os pneus, o estofamento, era tudo fabricado dentro de um mesmo espaço. Do ponto de vista da administração de empresas, a visão do Fordismo é interessante porque permite um maior controle, mas também tem as suas desvantagens.
De acordo com a teoria da Administração de Empresas, quando se controla o processo todo, em geral, se perde em eficiência: uma indústria que fábrica pneus, motores e estofamentos não pode ser mais eficiente que uma fábrica especializada em motores por exemplo.
Outra concepção importante do modelo de fábrica do Fordismo era a linha de produção. Embora o conceito de linha de produção já existisse a um tempo e fosse bem conhecido pelos teóricos de administração de empresas da época, foi Henry Ford que aperfeiçoou e aplicou com sucesso esse conceito pela primeira vez.
Na fábrica Fordista, não são os operários que tem que ir atrás do trabalho, é o trabalho vem até eles.
Os funcionários praticamente não precisavam se mexer, as peças e componentes iam andando sobre esteiras e os funcionários ficavam parados trabalhando em pequenas funções bem específicas.
Segundo a teoria do Fordismo, fazendo trabalhos pequenos e bem específicos os funcionários produziriam mais já que ficariam extremamente treinados em sua função e não precisariam se preocupar com mais nada.
Modelo de Fábrica Ideal para o Fordismo
Modelo de Fábrica Fordista: Entram as matérias primas e saem os produtos prontos
De modo resumido, a fábrica ideal para o Fordismo tinha as seguintes características de trabalho e administração de empresas:
A fábrica deveria ser grande e centralizada, produzindo todos os componentes necessários para a montagem do produto.
Os produtos fabricados deveriam ser simples e de fácil fabricação, assim poderiam ser fabricados em grande escala e a um preço barato.
Os funcionários deveriam trabalhar de um modo bem específico, fazendo apenas uma única função.
Os funcionários deveriam ganhar bem e ser valorizados para aumentar a motivação e produzir mais.
Aplicando a risca esses conceitos de administração de empresas, Henry Ford conseguiu acumular uma das maiores fortunas do início do século passado e também produzir mais de 20 milhões de carros até 1930, contribuindo para que o automóvel se tornasse um dos símbolos do mundo Ocidental.
A Superação do Fordismo por novas Teorias de Administração de Empresas
O auge do modelo do Fordismo se deu nas décadas de 1950 e 1960, nesta época diversas outras indústrias copiaram este modelo. A própria General Motors e a Volkswagen, concorrentes da Ford, cresceram aplicando os conceitos do Fordismo.
No entanto, a rigidez e a lógica do modelo Fordista que eram o seu ponto forte, foram também o motivo da sua decadência: os consumidores já não se contentavam mais com a rigidez dos modelos padronizados dos modelos de carros Ford.
Em 1970, a General Motors assume a liderança do mercado de carros fabricando automóveis mais chamativos, coloridos e variados. A GM também começou a aplicar novos conceitos de administração de empresas tais como a descentralização o que diminuiu o burocracia e os custos.
Nesta época o Fordismo com a sua produção industrial simples e massificada passam a ser substituidos pela produção industrial enxuta e administração de empresas baseadas na eficiencia. Apesar do Fordismo ser a base de grande parte das teorias de administração de empresas modernas, o Fordismo em sua forma original já não é aplicado nas empresas dos dias de hoje.
Toyotismo
O que é o Toyotismo, características, sistema de produção, origem no Japão, economia
toyotismo
Taiichi Ohno: criador do Toyotismo
O que é
Toyotismo é um sistema de organização voltado para a produção de mercadorias. Criado no Japão, após a Segunda Guerra Mundial, pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno, o sistema foi aplicado na fábrica da Toyota (origem do nome do sistema). O Toyotismo espalhou-se a partir da década de 1960 por várias regiões do mundo e até hoje é aplicado em muitas empresas.
Principais características do Toyotismo:
- Mão-de-obra multifuncional e bem qualificada. Os trabalhadores são educados, treinados e qualificados para conhecer todos os processos de produção, podendo atuar em várias áreas do sistema produtivo da empresa.
- Sistema flexível de mecanização, voltado para a produção somente do necessário, evitando ao máximo o excedente. A produção deve ser ajustada a demanda do mercado.
- Uso de controle visual em todas as etapas de produção como forma de acompanhar e controlar o processo produtivo.
- Implantação do sistema de qualidade total em todas as etapas de produção. Além da alta qualidade dos produtos, busca-se evitar ao máximo o desperdício de matérias-primas e tempo.
- Aplicação do sistema Just in Time, ou seja, produzir somente o necessário, no tempo necessário e na quantidade necessária.
- Uso de pesquisas de mercado para adaptar os produtos às exigências dos clientes.
TERCEIRIZAÇÃO
Diante da necessidade de transformações nos meios produtivos, a fim de economizar e aproveitar melhor os recursos, visando o aumento da competitividade nas organizações, é que surgem estratégias de gestão, como a terceirização, implementadas nas mais diversas partes do mundo e setores da economia.
A terceirização está, hoje, inserida nos conceitos da administração, dados que as empresas passaram a buscar alternativas de sobrevivência, um processo de busca na redução de despesas, especialmente de mão–de-obra, onde é possível a substituição pela de terceiros.
Para algumas empresas, erroneamente, mão-de-obra é sinônimo de custos, o que quer dizer despesas, dá-se a lógica: reduzir o efetivo e tudo mais que a ele estiver agregado que é uma das principais razões que levam a empresa a reduzir custos. Para aperfeiçoarem-se, as empresas devem planejar suas atividades constantes.
A terceirização é cada vez mais uma realidade nas empresas brasileiras, e também deve ser vista como uma ferramenta gerencial. Para a empresa analisada o processo de terceirização foi vantajoso por reduziu significativamente os custos com mão-de-obra devido a diminuição dos encargos sociais, necessidade de equipamento individual e ou coletiva para realizar a operação e a elevada especificidade das atividades.
Causas do Desemprego
As principais causas do desemprego no Brasil e no Mundo, plenoemprego
Desemprego: uma difícil situação enfrentada por muitos trabalhadores
O que é
O desemprego ocorre quando um trabalhador é demitido ou entra no mercado de trabalho (está a procura de emprego) e não consegue uma vaga de trabalho. É uma situação difícil para o trabalhador, pois gera problemas financeiros e, em muitos casos, problemas psicológicos (depressão, ansiedade, etc.) no trabalhador e em sua família.
Principais causas do desemprego
- Baixa qualificação do trabalhador: muitas vezes há emprego para a vaga que o trabalhador está procurando, porém o mesmo não possui formação adequada para exercer aquela função;
- Substituição de mão de obra por máquinas: nas últimas décadas, muitas vagas de empregos foram fechadas, pois muitas indústrias passaram a usar máquinas na linha de produção. No setor bancário, por exemplo, o uso de caixas eletrônicos e desenvolvimento do sistema bankline também gerou o fechamento de milhares de vagas;
- Crise econômica: quando um país passa por uma crise econômica, o consumo de bens e serviços tende a diminuir. Muitas empresas demitem funcionários como forma de diminuir custos para enfrentar a crise.
- Custo elevado (impostos e outros encargos) para as empresas contratarem com carteira assinada: este caso é típico do Brasil, pois os custos de contratação de empregados são muito elevados. Muitas empresas optam por aumentar as horas extras de seus funcionários a contratar mais mão de obra ;
- Fatores Climáticos: chuvas em excesso, secas prolongadas, geadas e outros fatores climáticos podem gerar grandes perdas financeiras no campo. Muitos empresários do setor agrícola costumam demitir trabalhadores rurais para enfrentarem situações deste tipo.
Como sugestão para melhoria da terceirização escolher fornecedores melhor qualificados, avaliar a capacidade técnica da empresa contratada, o custo dos serviços realizados por terceiros e coletar referências com outras construtoras sobre as empresas de terceirização.
A terceirização é cada vez mais uma realidade nas empresas brasileiras, e também deve ser vista como uma ferramenta gerencial.
TRABALHO INFANTIL
O que é trabalho infantil?
No Brasil, é qualquer trabalho exercido por criança e adolescente com menos de 16 anos, exceto na condição de aprendiz, e é proibido por lei. Os programas de aprendizagem, cujo objetivo é facilitar a formação técnico-profissional de adolescentes a partir dos 14 anos, devem atender a uma série de condições específicas, de modo a garantir que esse trabalho não prejudique o cotidiano e a vida escolar do jovem, entre outros. Para saber mais sobre essa condição, clique aqui.
Onde ele costuma ocorrer?
Hoje, no Brasil, a exploração do trabalho infantil está presente em diversos ambientes, tanto privados como públicos. Em toda a América Latina, segundo a OIT, uma de cada dez crianças e adolescentes está em situação de trabalho infantil, em suas mais diversas formas. Ou seja, ele pode estar na casa das pessoas, no restaurante do bairro, na esquina daquela avenida... Há ainda aqueles cuja prática é menos recriminada socialmente, como o trabalho rural e o doméstico, e até aqueles relacionados a atividades ilegais, com a exploração sexual e o tráfico de drogas.
Por que ainda há autorizações para o trabalho de adolescentes com menos de 16 anos?
Apesar da legislação nacional deixar essa proibição bem clara, alguns juízes da infância ainda autorizam a prática, com base no argumento de que o adolescente que trabalha pode ajudar a família a ter condições de garantir seu próprio sustento. Mas, se a família não consegue atender às necessidades de suas crianças e adolescentes, o Estado e até a própria sociedade devem intervir para fazer com que esses direitos sejam garantidos. Ou seja, não deve ser responsabilidade da própria criança ou adolescente trabalhar para se sustentar.
Fazer uma criança ajudar nos afazeres domésticos é promover o trabalho infantil?
Quando essa criança não consegue realizar as demais atividades importantes de seu dia-a-dia – como ir à escola, brincar, participar de atividades culturais – por conta do excesso de afazeres domésticos, ou se há exploração comercial, essa situação se caracteriza sim como trabalho infantil. Isso é ainda mais comum quando uma criança de uma família sem condições financeiras de garantir seu sustento é convidada a morar com uma família mais favorecida em troca da ajuda com esses serviços. É o chamado trabalho infantil doméstico, e os hábitos culturais de nossa sociedade acabam por até incentivar a prática.
E comprar balas de uma criança no farol, é promover o trabalho infantil?
Sim, e essa é uma das piores formas da prática. E, pois esse trabalho informal urbano é um dos mais complicados de combater devido à ausência de rotinas de fiscalização.
E os atores-mirins? Isso não é trabalho infantil?
A regra também é a proibição. A lei prevê exceções, no entanto, que podem existir desde que haja autorização expressa e individual de um juiz da infância, que deve analisar cada caso e o desenvolvimento de cada criança.
TRABALHO ESCRAVO
Antonio Carlos Olivieri*
Divulgação/OIT
Criança exercendo trabalho escravo em colheita
A origem da escravidão ou do trabalho compulsório se perde nos tempos, aproximando-se das origens da própria civilização humana. Segundo o antropólogo Gordon Childe, em um determinado momento da pré-história, os homens perceberam que os prisioneiros de guerra - normalmente sacrificados em cultos religiosos - poderiam ser usados para o trabalho ou "domesticados" como os animais.
Nas civilizações da Antigüidade - Egito, Babilônia, Grécia, Roma... - a escravidão era uma prática constante.
Somente na Idade Média, com a reestruturação da sociedade européia de acordo com a ordem feudal, a escravidão foi substituída pela servidão, uma forma mais branda, por assim dizer, do trabalho compulsório.
Grandes navegações
Em termos mundiais, a escravidão ressurgiu com o mercantilismo ou capitalismo comercial, concomitantemente à época das grandes navegações.
O uso da mão-de-obra escrava - em especial do negro africano - desenvolveu-se nas colônias de além mar de países como Espanha, Portugal, Holanda, França e Inglaterra.
Colonos endividados
Os imigrantes europeus e orientais que para cá vieram no fim do século 19 substituir a mão de obra escrava, recebiam um tratamento que se poderia considerar semelhante à escravidão.
Na década de 1890, por exemplo, denunciavam-se em embaixadas estrangeiras as condições de vida a que eram submetidos os imigrantes europeus. Eram obrigados a comprar dos fazendeiros para quem trabalhavam as roupas que usavam, as ferramentas para o trabalho, sua própria alimentação, de modo que ao fim do mês em vez de um salário, recebiam uma lista de dívidas que haviam contraído, o que os obrigava a continuar trabalhando para os mesmos patrões.
Pior: a situação descrita no parágrafo anterior continua a existir no exato momento em que estas linhas são escritas e que você lê esse texto. Desde de a década de 1970 existem denúncias de que o trabalho escravo - apesar de constituir um crime - continua praticado no Brasil. O método empregado é o mesmo que se usava com os imigrantes, ou seja, forçar o trabalhador a endividar-se, de modo que ele seja forçado a trabalhar para pagar sua dívida. Para evitar fugas, capangas armados são espalhados nas fazendas, atuando como "neofeitores" ou capitães do mato.
Salvador e São Paulo
Em 2002, o Ministério do Trabalho libertou 2.306 trabalhadores escravos nas áreas rurais do país. Em 2004, foram libertados 4.932. Em geral, os Estados onde o uso do trabalho análogo à escravidão é mais freqüente são Tocantins, Pará, Rondônia, Maranhão, Mato Grosso e Bahia.
Neste último Estado, em fevereiro de 2004, a polícia libertou 40 trabalhadores em regime compulsório na cidade de Catu, a 80 quilômetros da capital, Salvador.
Mas ninguém pense que a escravidão no Brasil de hoje se restringe às regiões rurais. Em 21 de agosto de 2004 o Ministério do Trabalho pegou em flagrante o uso de trabalho escravo numa confecção do Bom Retiro, um bairro na região central da capital paulista. Tratava-se de imigrantes ilegais - paraguaios, bolivianos e peruanos - submetidos a uma jornada de mais de 16 horas de trabalho, em condições degradantes e monitorados pelos donos da empresa por circuitos fechados de TV.
12,3 milhões de escravos no mundo
Também não se pense que o trabalho escravo ou semi-escravo continua a existir exclusivamente no Brasil. A prática se mantém em diversos países da África e da Ásia (especialmente na China), mas é de se supor que o trabalho em condições precárias e de grande exploração esteja presente em todos os países ricos onde é grande o fluxo de imigrantes, como os Estados Unidos e a União Européia.
Um estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Organização das Nações Unidas, em maio de 2005, indica que existem cerca de 12,3 milhões de escravos no mundo todo, dos quais entre 40% e 50% são crianças.
Evidentemente, a escravidão ou o trabalho em condições semelhantes a ela é hoje um crime grave e aqueles que os praticam estão submetidos a penas legais, pagando multas, perdendo seus empreendimentos e, eventualmente, indo parar na prisão. Ainda assim, não deixa de ser assustador o fato de um fenômeno tenebroso como a escravidão atingir o século 21, acompanhando os quase 12 mil anos de existência do homo sapiens no planeta Terra.
TRABALHO INFORMAL
AS DEFINIÇÕES DE TRABALHO INFORMAL
Há uma grande confusão em torno do significado do trabalho informal. Isso não se deve a pelejas metodológicas entre pesquisadores. Na verdade, a própria natureza do trabalho informal é complexa, englobando diferentes categorias de trabalhadores com inserções ocupacionais bastante particulares.
Entretanto, há duas formas básicas de se definir o trabalho informal. De um lado, há aqueles que definem o trabalho informal como aquele cujas atividades produtivas são executadas à margem da lei, especialmente da legislação trabalhista vigente em um determinado país. Aqui estariam os trabalhadores conta-própria, grande parte dos quais não contribui à previdência, os trabalhadores sem carteira assinada e os não-remunerados. Este ponto devista compreende o trabalho informal a partir da precariedade da ocupação.
De outro lado, pode-se definir o trabalho informal como aquele vinculado a estabelecimentos de natureza não tipicamente capitalista. Estes estabelecimentos se distinguiriam pelos baixos níveis de produtividade e pela pouca diferenciação entre capital e trabalho. O núcleo básico seria formado pelos trabalhadores por conta própria, mas também pelos empregadores e empregados de pequenas firmas com baixos níveis de produtividade.
De acordo com este enfoque, o trabalho informal não é definido pelo respeito ou não ao marco legal mas de acordo com a dinâmica econômica das unidades produtivas. Daí o fato de se caracterizar este setor como desorganizado, não-estruturado etc. O trabalho informal pode tanto indicar uma estratégia de sobrevivência face à perda de uma ocupação formal, como uma opção de vida de alguns segmentos de trabalhadores que preferem desenvolver o seu "próprio negócio".
Ou seja, os trabalhadores informais seriam aqueles vinculados ao chamado sistema simples de produção de mercadorias e serviços, onde o assalariamento não é a regra, sendo antes a exceção. Aqui, o empregador também trabalha como empregado, podendo fazer uso de ajudantes não-remunerados (geralmente familiares), no caso dos autônomos, como também contratar empregados com ou sem carteira assinada no caso das microempresas, geralmente com até 5 empregados.
Segundo esta segunda perspectiva, a capacidade de geração de renda do trabalho informal é definida pela expansão do setor capitalista da economia, o qual gera demanda por bens e serviços. O trabalho informal pode estar vinculado tanto às cadeias produtivas das empresas capitalistas – por exemplo, uma costureira que produz para uma grande empresa de confecção – ou ao poder de consumo dos trabalhadores formais – por exemplo, uma doceira que faz bolos e doces por encomenda. Daí o fato de se ressaltar o caráter subordinado do setor informal no sistema econômico capitalista. No âmbito deste sistema, não se pode pensar no setor informal como uma solução para o emprego, se não forem elevados os níveis de investimento e de salários do setor dinâmico da economia.
A aceitação desta segunda perspectiva faz sentido porque contribui para "limpar o terreno", explicitando os trabalhadores realmente vinculados ao segmento informal, não tipicamente capitalista, e aqueles com ocupações precárias em atividades capitalistas. Este segundo grupo inclui parte significativa dos trabalhadores sem carteira assinada, os quais não seriam informais, mas trabalhadores do setor capitalista cujos empregadores desrespeitam a legislação trabalhista vigente.
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